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5 de agosto de 2025

O Reino do Frota: luxo, poder e ruína em Meia Ponte

Ouro, poder e ruína: o “Reino do Frota” dominou Meia Ponte e deixou um legado de lendas em Pirenópolis.
Diego Leonel
Diego Leonel

31 de julho de 2025 às 08:30

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A história do homem que desafiou a Coroa, viveu como rei em Pirenópolis e teve seu império soterrado pelo tempo

O Reino do Frota: o homem que foi rei em Meia Ponte

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Entre lendas e registros esquecidos, a história do “Reino do Frota” permanece viva nos becos e morros de Pirenópolis — ou Meia Ponte, como era conhecida até o século XIX. Um nome que sobreviveu ao tempo, escondido entre ruínas, pousadas e o eco de histórias que atravessam gerações.

Luciano Nunes Teixeira e seu genro Antônio Rodrigues Frota chegaram cedo à então vila de Meia Ponte. Com grande posse de terras — que iam dos morros à esquerda do Rio das Almas até onde a vista alcançava —, acumularam riquezas cavando as entranhas da terra à procura de ouro. E encontraram muito.

O Reino do Frota: luxo, poder e ruína em Meia Ponte - AE9130AE 6070 4B00 9FA1 79F70F2CC6C4Ouro em abundância, igreja particular e tapetes até a missa

A fortuna do Frota era tamanha que sua esposa costumava dizer: “Mais fácil o Rio das Almas subir à serra do que o ouro do Frota acabar”. Essa confiança se refletia em cada detalhe da vida da família.

O patriarca construiu um castelo com dois pavimentos e uma torre imponente, cuja escadaria serpenteava pelo terreno. Como símbolo máximo de sua opulência, edificou sua própria igreja, a Igreja de Nossa Senhora do Monte do Carmo, onde se celebravam missas privadas. Aos domingos, a família não tocava o chão de terra batida: mandava estender tapetes do castelo até a igreja, especialmente para suas filhas.

Vestidas com tecidos finos e penteadas com ouro em pó, as jovens do Frota chamavam atenção pela arrogância e pelo brilho literal. A imagem da família era cuidadosamente esculpida na ostentação, como se fossem a própria realeza do cerrado.

O Reino do Frota: luxo, poder e ruína em Meia Ponte - E661E3EF A012 46F6 9B1D 739727FA7F86O cacho de bananas de ouro e o título imperial

Não bastasse o poder local, Frota queria reconhecimento direto da Coroa. Mandou forjar um cacho de bananas em ouro maciço e o enviou de presente à rainha de Portugal. A audácia valeu: o agrado convenceu a monarquia a desmembrar suas terras da Capitania de Goiás, reconhecendo-as como um “império” autônomo, subordinado apenas à Coroa portuguesa. O “Reino do Frota” era, oficialmente, um feudo tropical no coração do Brasil colonial.

O Reino do Frota: luxo, poder e ruína em Meia Ponte - 9A2E6168 E80C 4FB5 8D31 512AA8AFCDD4Tesouros enterrados, escravidão brutal e queda inevitável

O ouro extraído era tanto que Frota passou a enterrá-lo em garrafas de vidro pelos morros de sua propriedade. Mas seu medo de traições o levou a extremos. Levava escravizados idosos para cavar e esconder os tesouros, e, ao final da jornada, mutilava ou sacrificava os que participaram da tarefa, temendo que revelassem os segredos de seus esconderijos.

Mas o esplendor não resistiu ao tempo. Frota morreu precocemente, logo seguido pela esposa e pelo sogro Luciano. Suas filhas, agora órfãs, foram alvo da cobiça dos poderosos locais. Juízes e coronéis saquearam o que restava do império. No início do século XIX, as jovens aristocratas foram vistas pelas ruas de Meia Ponte, agora como indigentes, mendigando e revirando o lixo.

O Reino do Frota: luxo, poder e ruína em Meia Ponte - E781DEB0 DD82 43BA 81D0 2D3FEFB1418DDo castelo ao Morro do Frota

O castelo foi desmontado pedra por pedra e reaproveitado na construção da famosa Casa de 365 Janelas, um dos ícones arquitetônicos de Pirenópolis. As ruínas do antigo palácio ainda podiam ser vistas até poucas décadas atrás, antes de serem cobertas por uma pousada de luxo.

Hoje, só restou o nome: Morro do Frota, onde fica a antena da cidade, mantém viva a lembrança desse império tropical que floresceu entre arrogância, ouro e crueldade.

O Reino do Frota: luxo, poder e ruína em Meia Ponte - IMG 4058Curiosidade histórica

A Igreja de Nossa Senhora do Monte do Carmo ainda existe, mas já não pertence à antiga propriedade. Hoje, é uma das relíquias arquitetônicas de Pirenópolis, aberta ao público em algumas ocasiões especiais. Parte da paisagem histórica da cidade, é também um lembrete silencioso de um tempo em que a fé e o poder caminhavam lado a lado — literalmente, sobre tapetes.

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