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7 de dezembro de 2025

IPHAN Multa Prefeitura de Pirenópolis por Danos no Largo da Matriz

IPHAN multa Prefeitura de Pirenópolis por retirada de árvores no Largo da Matriz. Obra em área tombada causou dano ao patrimônio histórico.
Redação
Redação

24 de outubro de 2025 às 09:43

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O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) acaba de notificar a prefeitura de Pirenópolis com uma autuação por danos ao patrimônio cultural brasileiro. A medida surge como resposta à retirada de árvores centenárias no Largo da Matriz durante obras de revitalização realizadas sem a devida autorização. O auto de infração, formalizado na última terça-feira, estabelece um prazo de 15 dias para que a administração municipal apresente sua defesa.

Este episódio coloca em evidência um dos espaços mais emblemáticos do centro histórico da cidade, reconhecido pelo IPHAN como conjunto arquitetônico, urbanístico e paisagístico de excepcional valor nacional. As intervenções executadas sem aprovação prévia alteraram características fundamentais que definiam a identidade visual do local protegido.

Contexto Histórico da Preservação

A atuação do IPHAN em Pirenópolis possui trajetória consolidada desde o tombamento do centro histórico em 1989. Naquela época, técnicos do instituto identificaram na cidade goiana um exemplar singular da arquitetura colonial brasileira, merecedor de proteção federal. O Largo da Matriz, especificamente, foi considerado peça-chave nesse conjunto por abrigar não apenas a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário, mas também por constituir o principal palco das tradicionais Cavalhadas.

Ao longo das décadas, o IPHAN manteve diálogo constante com sucessivas administrações municipais, orientando sobre os procedimentos necessários para intervenções em áreas tombadas. A legislação federal estabelece que qualquer modificação em bens protegidos deve ser previamente analisada e aprovada pela autarquia, garantindo a preservação das características originais que justificaram a proteção.IPHAN Multa Prefeitura de Pirenópolis por Danos no Largo da Matriz - unnamed

Fundamentação Técnica da Autuação

A decisão do IPHAN baseia-se em relatório técnico que atestou a descaracterização paisagística do Largo da Matriz. Especialistas do instituto constataram que a remoção da vegetação adulta alterou substancialmente a ambiência do local, modificando relações visuais e microclimáticas estabelecidas ao longo de décadas. As árvores suprimidas integravam a cena urbana histórica, compondo com a arquitetura colonial um conjunto harmonioso e coeso.

O parecer técnico do IPHAN destacou ainda que a intervenção descumpriu dispositivos legais específicos que regulam a proteção de conjuntos urbanos tombados. Entre as normas violadas, citam-se aquelas que tratam da preservação da paisagem cultural e da manutenção dos elementos que compõem a identidade visual dos sítios históricos protegidos.

Procedimentos Ignorados

A legislação patrimonial brasileira, administrada pelo IPHAN, estabelece protocolos rigorosos para intervenções em áreas tombadas. No caso específico de Pirenópolis, esses procedimentos incluem:

  • Elaboração de estudo de impacto sobre o patrimônio cultural

  • Submissão de projeto detalhado à análise técnica do instituto

  • Obtenção de autorização formal para supressão vegetal

  • Definição de medidas compensatórias ambiental e paisagisticamente adequadas

  • Realização de consulta pública quando as alterações forem significativas

A ausência desses cuidados elementares caracterizou, na avaliação do IPHAN, grave descumprimento dos deveres de proteção ao patrimônio cultural nacional.

Repercussões no Meio Técnico

Especialistas em preservação patrimonial têm manifestado apoio à decisão do IPHAN. Para o professor doutor em arquitetura e urbanismo, João Carlos Santos, “a atuação firme do instituto reforça a importância dos instrumentos de proteção patrimonial em um momento de crescentes pressões modernizadoras sobre os centros históricos brasileiros”.

A Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas emitiu nota técnica endossando a posição do IPHAN, destacando que “a vegetação em sítios históricos constitui elemento indissociável da paisagem cultural, não podendo ser tratada como mero adorno removível”.

Impactos sobre o Turismo Cultural

Pirenópolis consolida-se há décadas como importante destino de turismo cultural no Brasil Central. O centro histórico preservado representa o principal atrativo para visitantes interessados na arquitetura colonial e nas manifestações culturais tradicionais. A descaracterização do Largo da Matriz preocupa operadores turísticos, que temem perda de autenticidade – valor fundamental para o turismo cultural.

Pesquisas realizadas pela Universidade Federal de Goiás indicam que 78% dos visitantes consideram a preservação do cenário histórico como fator decisivo na escolha de Pirenópolis como destino. A manutenção da integridade visual dos espaços tombados mostra-se, portanto, essencial para a sustentabilidade econômica do turismo na região.

Precedentes e Jurisprudência

A atuação do IPHAN neste caso alinha-se com jurisprudência consolidada em matéria de proteção patrimonial. Decisões similares em cidades como Ouro Preto, Paraty e Olinda estabeleceram o entendimento de que a vegetação integra o conceito de paisagem cultural protegida. Em 2019, o Supremo Tribunal Federal julgou procedente ação do Ministério Público Federal que questionava a retirada de árvores em área tombada de Diamantina, reforçando a competência do IPHAN para zelar pela integridade dos conjuntos urbanos protegidos.

Esses precedentes fortalecem a posição técnica do instituto, demonstrando que a proteção da paisagem cultural transcende a mera preservação dos edifícios isolados, abrangendo a totalidade dos elementos que compõem a cena urbana histórica.

Perspectivas de Solução

Especialistas sugerem que a prefeitura poderia buscar uma solução negociada com o IPHAN, apresentando um projeto de recomposição paisagística que respeite as características históricas do local. A adoção de espécies vegetais compatíveis com o período de formação do conjunto tombado, associada a um programa de educação patrimonial, poderia constituir caminho para a resolução do impasse.

IPHAN tem demonstrado abertura para acordos que priorizem a recuperação dos danos causados ao patrimônio cultural, desde que fundamentados em pareceres técnicos consistentes e no efetivo compromisso com a preservação.

Reflexões sobre Gestão Municipal

O episódio suscita importantes reflexões sobre os desafios da gestão municipal em cidades históricas. A necessidade de conciliar desenvolvimento urbano com preservação patrimonial exige das administrações locais capacidade técnica especializada e compreensão aprofundada da legislação de proteção ao patrimônio cultural.

O estabelecimento de equipes técnicas permanentes dedicadas ao patrimônio histórico, com formação específica na área, mostra-se medida essencial para evitar situações como a que culminou na autuação do IPHAN. A valorização dos instrumentos de planejamento urbano, como os planos diretores e as leis de uso do solo, constitui outro aspecto fundamental para a gestão adequada dos sítios históricos.

Importância da Participação Social

Experiências bem-sucedidas em outras cidades históricas demonstram que a participação da comunidade local nos processos decisórios representa fator crucial para o equilíbrio entre preservação e desenvolvimento. A criação de conselhos municipais do patrimônio cultural, com representação plural da sociedade civil, tem se mostrado instrumento eficaz para a construção de consensos em torno das políticas de preservação.

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foto: o popular

O envolvimento da população nas discussões sobre o futuro dos centros históricos fortalece o sentimento de pertencimento e corresponsabilidade pela proteção do patrimônio cultural, elementos fundamentais para a sustentabilidade das ações preservacionistas a longo prazo.

A atuação do IPHAN neste caso reafirma o compromisso institucional com a proteção do patrimônio cultural brasileiro, demonstrando que a preservação dos bens tombados constitui dever de todos os entes federativos. O desfecho deste processo certamente influenciará as políticas de preservação patrimonial em todo o país, contribuindo para o aprimoramento das práticas de gestão dos sítios históricos nacionais.

 

fonte: o popular

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