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7 de dezembro de 2025

O Divino e as Máscaras: registro histórico da cultura de Pirenópolis

Documentário de 1969 registra a Festa do Divino, as Cavalhadas e os mascarados, preservando tradições e a memória cultural de Pirenópolis.
Redação
Redação

27 de novembro de 2025 às 17:01

O Divino e as Máscaras: registro histórico da cultura de Pirenópolis

Um marco do cinema brasileiro e da cultura pirenopolina

O filme Pirenópolis – o Divino e as Máscaras, dirigido pelo cineasta Lyonel Lucini e concluído em 1969, é um dos registros mais importantes da Festa do Divino Espírito Santo e das tradições populares de Pirenópolis. Filmado em 1968 e com cerca de 20 minutos de duração, o documentário apresenta rituais, costumes e práticas que estruturam a celebração, oferecendo um retrato visual de grande valor histórico, artístico e antropológico.

O curta-metragem foi a primeira produção cinematográfica do extinto Instituto Central de Artes (ICA) da Universidade de Brasília, criada em coprodução com o também extinto Instituto Nacional de Cinema (INC). A obra se tornou um dos primeiros registros audiovisuais completos do festejo, combinando documentação, estética poética e uma leitura simbólica das tradições locais.

A visão de Lucini sobre o Império do Divino

Logo nos minutos iniciais, o documentário apresenta a Festa do Divino como expressão de um “império de liberdade, fartura e criação”. A narração destaca que esse império é sustentado por figuras tradicionais como os mascarados, os guriões, os loucos do Divino, os presos libertados e o imperador eleito diretamente pelo povo.

A instalação do Império do Divino tem um sentido simbólico central: representar o desejo coletivo de liberdade, abundância e participação comunitária. As imagens mostram moradores e visitantes acompanhando os cortejos e rituais, reforçando o caráter popular da celebração.

O papel do Imperador e seus atos simbólicos

O filme registra um dos rituais mais emblemáticos da Festa do Divino: a ida do imperador à cadeia da cidade para libertar um preso. A narração explica que esse ato representa a ideia de que todos devem ser livres e ter acesso à fartura produzida pela comunidade.

Outro momento documentado é a repartição dos pães às chamadas “virgens”, termo utilizado para designar pessoas simples, geralmente crianças ou figuras consideradas de pureza. Esse gesto simboliza a partilha dos bens — materiais, culturais ou tecnológicos — como forma de transformar a realidade social.

O documentário também registra a coroação do imperador de 1968, cargo exercido naquele ano pelo deputado federal Geraldo Abadia de Pina. A escolha direta do imperador pela comunidade é apresentada como uma tradição histórica que, segundo a narração, surgiu como uma provocação ao Papa.

A Cavalhada e a representação histórica

Um dos trechos de maior impacto visual do filme é o registro da Cavalhada. Os cavaleiros, divididos entre mouros e cristãos, encenam batalhas simbólicas que fazem parte da tradição pirenopolina. O documentário mostra a sequência de enfrentamentos e destaca a narrativa da vitória dos cristãos, que impõem o batismo aos mouros vencidos.

A narração aponta que esse ritual reproduz simbolicamente conflitos e imposições históricas, representando a vitória da cultura ocidental cristã sobre outras tradições. As cenas mostram detalhes dos trajes, dos cavalos e da encenação, revelando elementos que permanecem presentes na festa até os dias atuais.

Os mascarados e o cotidiano de 1968

O documentário também dedica parte de suas imagens aos mascarados, figuras que percorrem as ruas com irreverência, brincadeiras e interação direta com o público. Eles representam o lado lúdico da festa e são considerados um dos pilares simbólicos da celebração do Divino.

Além dos rituais religiosos, o filme traz informações sobre a Pirenópolis de 1968: uma cidade com 4 mil habitantes na sede e 30 mil no município, distante 170 km de Brasília e 1.700 km do Rio de Janeiro. O registro ressalta que, naquele período, Pirenópolis não possuía telefone, sistema de esgoto, sindicato ou hospitais, reforçando o valor documental da obra como testemunho da realidade local da época.

Conclusão simbólica do filme

O documentário termina afirmando que “o império do divino é a afirmação dos que procuram o imprevisto próprio da liberdade e a conquista do desconhecido pela criação”. A frase sintetiza a leitura poética do diretor e reforça o caráter simbólico da festa como tradição viva e em constante reconstrução.

Disponibilidade do filme

A obra está disponível publicamente e pode ser assistida na íntegra em plataformas digitais, contribuindo para o acesso à memória coletiva e para o estudo da cultura popular de Pirenópolis.

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